domingo, 31 de outubro de 2010

Religião o câncer da humanidade

Por que, até hoje, ela nunca promoveu efetivamente a elevação ética e espiritual do ser humano como deveria.
Por Jaya Hari Das*

O cidadão cedeu seu direito à liberdade ao Estado, enquanto o homem, seu direito ao autoconhecimento à religião. Algumas poucas nações podem, categoricamente, vangloriar-se de terem acertado no primeiro caso, mas quase nenhuma haverá de admitir que o mesmo ocorreu com elas no segundo. Esperar que os governos satisfizessem as necessidades básicas da sociedade agora parece tão vão quanto achar que as religiões institucionais fossem modelos para a formação do homem íntegro. Aliás, se esta análise for feita no âmbito ocidental, onde Estado e Igreja, por longo tempo, andaram de mãos danegativo. Pelo menos, isso é o que se chega à conclusão, quando se perscruta resumidamente a história do homem em busca de sua felicidade e de sua essência – uma epopeia espiritual, repleta de derrotas e conquistas, de revoltas e sacrifícios, de crenças e desilusões, protagonizada por homens simples e
“avatares”.
Durante um longo período de obscuridade – da Pré-história até o surgimento da “razão” – muita coisa se produziu na mente humana e no mundo e solidificou-se como “verdade”. Exemplos disso são os mitos e os oráculos, que surgiram como pura necessidade de preencher o vazio da falta de explicação para alguns eventos dentro e fora do próprio homem. Se, por um lado, eles eram a única possibilidade de demonstrar a verdade, por outro, também davam espaço para a manipulação dessa verdade por parte dos sacerdotes, seus intérpretes. Desta forma, por falta de explicações melhores (assim como de uma exigência intelectual não desabrochada até então), quem tinha (ou tomava para si) a “autoridade de interpretar” exercia o poder de “revelar a verdade”. No mais das vezes, porém, a verdade estava longe de tudo aquilo que era dito ou ensinado, o que fez, desde então, com que a mentira e a ignorância andassem definitivamente de mãos dadas (mas quem haveria de suspeitar e questionar?!). Foi, provavelmente, nesses obscuros momentos da História que, assombrados por seus sonhos, suas visões, seus temores e suas superstições, aqueles homens de então se viram forçados a “inventar” suas “Entidades Superiores”, suas “Divindades”, seus “deuses e deusas” – uma forma de aliviarem seus espíritos, açoitados pelo terror do “desconhecido”. Assim, deram nomes, formas e atributos a tais seres sobrenaturais e iniciaram um aglomerado de práticas, cada uma das quais supostamente úteis para agradar ou aplacar a cólera dos tais “Senhores Invisíveis”.

Avatares
Grandes mestres, considerados como encarnações da Divindade. De acordo com a crença oriental, são exemplos desses mestres, que sempre vêm à Terra promover uma limpeza espiritual: Jesus Cristo, Buda e Krishna.

A ferro e fogo
Esses ritos foram sendo aprimorados e difundidos entre os povos primitivos, passando a ser praticados rigorosamente, como se, na falta deles, algo de muito ruim pudesse acontecer. Tais práticas ritualísticas certamente se modificaram ao longo do tempo, em razão da mistura de povos (conquistadores e conquistados) e da necessidade de adequação, de atualização dos costumes e dos padrões morais e culturais. No entanto, os elementos fundamentais de sua criação (poder e domínio) e os de sua manutenção (temor e adoração) continuaram os mesmos, e assim, hoje em dia, não importando a que culto esteja ligado, o fiel é um “náufrago”, que boia em pleno mar, segurando-se em duas pequenas tábuas, o medo e a esperança.
Foi, sem dúvida, dessa forma que tais cultos se perpetuaram até nossos dias, passando a ser chamados de “religiões”, muito bem guarnecidas pelos “senhores da verdade” – aqueles que se apropriaram dos ensinamentos dos “avatares” e, mantendo o rótulo, porém, trocando o conteúdo, venderam (e ainda vendem) “frascos da verdade” nas praças de mercados. E, apesar de todos os males que têm causado ao homem, em particular, e à Humanidade, em geral, por incrível que pareça, ainda conquistam adeptos (mesmo entre os homens mais ilustres e ilustrados deste planeta).
Sem qualquer conhecimento sobre o que realmente foi dito e feito pelos verdadeiros mestres da Humanidade (os avatares ), esses crentes de fé cega, seja pela condição miserável de suas vidas, seja por falta de acesso a outros escritos que confrontam as versões “oficiais” desses credos, nem suspeitam que tais doutrinas, longe de promoverem a elevação espiritual do ser humano, ocupam-se prioritariamente em tomar para si o monopólio da Verdade, produzir mentiras metafísicas, acobertar crimes contra a Humanidade, promover guerras contra os opositores de suas convicções, impedir o avanço do conhecimento e do autoconhecimento (pois, com a iluminação interior e exterior, suas tramas falaciosas viriam à luz), entre outros delitos de mesmo cunho.
As vítimas dessas doutrinas falaciosas não se encontram apenas entre os homens comuns, muitos filósofos e pensadores não foram capazes de se desvencilhar das malhas desses credos perniciosos; não perceberam nem intuíram os males advindos dali. Felizmente, outros esclarecidos não só enxergaram tais barbáries, como também se recusaram a fazer parte delas e denunciaram-nas explicitamente, como é o caso do britânico Bertrand Russell. São suas as palavras: “A igreja é perniciosa não apenas no que diz respeito à intelectualidade, mas também à moralidade”. Tal sentença é fortemente explorada ao longo de toda sua argumentação e o pensador amplia sua crítica à religião institucional ao dizer: “Minha visão pessoal a respeito da religião é a mesma de Lucrécio. Vejo-a como uma doença derivada do medo e como fonte de tristeza incalculável para a raça humana. Não posso, no entanto, negar que ela realizou, sim, algumas contribuições à civilização. No início, ajudou a estabelecer o calendário e fez com que os sacerdotes egípcios relatassem eclipses com cuidado tal que, com o tempo, tornaram-se capazes de prevê-los. Estou pronto a admitir esses dois serviços prestados, mas não sei de mais nenhum outro”.

Reportagem da Revista Filosofia
Fonte: http://conhecimentopratico.uol.com.br
Postado por Morena Zimmermann

Trecho de Martha de Medeiros


...Não é amor querer fundir uma vida com outra. Isso se chama associação: duas pessoas com metas comuns escolhem viver juntas para executar um projeto único, que quase sempre é o de construir família. Absolutamente legítimo, e o amor pode estar incluído no pacote. Mas não é isso que define o amor.

Seguramente, o amor existe. Mas, por não termos vontade ou capacidade para questionar certas convenções estabelecidas, acreditamos que dar amor a alguém é entregar a essa pessoa nossa vida. Não só nosso eu tangível, mas entregar também nosso tempo, nosso pensamento, nossas fantasias, nossa libido, nossa energia: tudo aquilo que não se pode pegar com as mãos, mas se pode tentar capturar através da possessão.

O amor em estado bruto, o amor 100% puro, o amor desvinculado das regras sociais é o amor mais absoluto e o que maior felicidade deveria proporcionar. Não proporciona porque exigimos que ele venha com certificado de garantia, atestado de bons antecedentes e comprovante de renda e de residência. Queremos um amor ficha-limpa para que possamos contratá-lo para um cargo vitalício. Não nos agrada a idéia de um amor solteiro. Tratamos rapidamente de comprometê-lo, não com o nosso amor, mas com nossas projeções.

"O amor, na essência, necessita de apenas três aditivos: correspondência, desejo físico e felicidade. Se alguém retribui seu sentimento, se o sexo é vigoroso e se ambos se sentem felizes na companhia um do outro, nada mais deveria importar. Por nada, entenda-se: não deveria importar se outro sente atração por outras pessoas, se outro gosta de fazer algumas coisas sozinho, se o outro tem preferências diferentes das suas, se o outro é mais moço ou mais velho, bonito ou feio, se vive em outro país ou no mesmo apartamento e quantas vezes telefona por dia. Tempo, pensamento, fantasia, libido e energia são solteiros e morrerão solteiros, mesmo contra nossa vontade. Não podemos lutar contra a independência das coisas. Aliança de ouro e demais rituais de matrimônio não nos casam. O amor é e sempre será autônomo."

Fácil de escrever, bonito de imaginar, porém dificilmente realizável. Não é assim que estruturamos a sociedade. Amor se captura, se domestica e se guarda em casa. Às vezes forçamos sua estada e quase sempre entregamos a ele os direitos autorais de nossa existência...

Martha Medeiros