domingo, 10 de fevereiro de 2013

Os Três Mal-Amados



O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.


O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.


Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.


O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.


O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.


O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.


O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.


O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.


O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
João Cabral de Melo Neto

sexta-feira, 9 de março de 2012

Ctrl, Alt Gr, Delete


Como pode alguem viver sem um ombro para encostar sua cabeça!?
Sem um carinho, sem uma palavra de amor?
Nisso estaria a beleza da vida! Nossa recompensa de tantas contrariedades!
Suprir nossas necessidades afetivas! Como viver sem isso?
Meu Deus, estou perdida neste mundo de emoções!
Justo eu, que aprendi a dar valor a isso!
Só vejo desamor, arbitrariedades, pessoas nos usando como aventuras!
Guerra de poder, ódio e inimizades!
Nada haver comigo.
Revanches, também faço, mas depois me sinto muito mal.
Como algo de sobrevivencia, totalmente contraria a minha personalidade.
Nada haver, este mundo hostil e que quando não lhe interessa mais!
Apenas aperte o Ctrl, Alt Gr, Delete.

Morena Zimmermann

quinta-feira, 1 de março de 2012

Surpresas da vida - NÓS



As nuvens passam, a maré muda, a lua se transforma.
Nós, não tomamos conta de nossos atos e palavras.
Tudo é muito confuso!
Hierarquia, não existe mais.
Ainda bem! Nunca concordei com isso.
Nunca aceitei.
Mas, acho o respeito, muito importante.
Não nos conhecemos profundamente,
Somos uma surpresa a cada dia.
Como esperamos conhecer, nossos amigos e familiares!?
A cada dia, faço novas descobertas sobre o intimo de mim e de cada um.
Isso me faz totalmente fria diante de tanta mudança.
Para quê se importar hoje,
Se amanhã, o hoje não existe mais!
A vida, é uma caixinha de surpresas. rsrsrsrs...
Nós, somos a surpresa.

Morena Zimmermann

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Quando me olho


Quando me olho,
vejo um mar com ondas calmas a beijarem a praia.
Quando me olho,
vejo uma cascata com águas límpidas a beijar o ar.
Quando me olho,
vejo uma criança feliz de mãos dadas com sua mãe,
pela rua a abrir e fechar portões por onde passa.
Quando me olho,
vejo a mesma garotinha feliz indo ao circo com seu pai,
em uma tarde de domingo ensolarado.
Quando me olho,
vejo uma garota contar historias para outra
na véspera de uma cirurgia de sua amiguinha.
Quando me olho,
vejo uma adolescente ja se sentindo vitoriosa
diante de obstáculos que a vida lhe reservou.
Quando me olho,
vejo uma jovem feliz, amada e admirada.
Quando me olho,
vejo uma mulher que fez de tudo o que queria para ser feliz
e o que não queria, para fazer os outros felizes.
Hoje, quando tento olhar para o futuro,
vejo uma velhinha sentada em sua cadeira com o olhar perdido
esperando algo que ela pensou que um dia teve.


Morena Zimmermann